3.9.09

é muito boa a sensação de (entre teias de aranha, poeira e abandono) gostar de reler algo (tirando uma palavrinha aqui, uma interrogação ali) que você escreveu quase ou mais de duas dezenas de meses antes. quase nem se lembra o quanto foi doloroso conviver com aquelas palavras. e quase te dá força pra enfrentar convívios outros que de repente se fazem necessários. às vezes parece que aquela torneira que, primeiro fechada, depois gotejando, depois derramando palavras "quebrou, não fecha mais" e não vai mais parar de jorrar. e permanece a dúvida: deve-se trocar essa torneira ou aproveitar essa água, sabendo que o motivo que a abriu certamente será o motivo que a forçará a fechar?

19.5.08

in time of daffodils
(e.e. cummings)

in time of daffodils(who know
the goal of living is to grow)
forgetting why,remember how

in time of lilacs who proclaim
the aim of waking is to dream,
remember so(forgetting seem)

in time of roses(who amaze
our now and here with paradise)
forgetting if,remember yes

in time of all sweet things beyond
whatever mind may comprehend,
remember seek(forgetting find)

and in a mystery to be
(when time from time shall set us free)
forgetting me,remember me

15.12.07

i go to this window

i go to this window
just as day dissolves
when it is twilight(and
looking up in fear

i see the new moon
thinner than a hair)

making me feel
how myself has been coarse and dull
compared with you, silently who are
and cling
to my mind always

But now she sharpens and becomes crisper
until i smile with knowing
-and all about
herself

the sprouting largest final air

plunges
inward with hurled
downward thousands of enormous dreams

(e.e. cummings)

5.12.07

rising rose

rise, rose!
having such thoughts
must not keep you in bed

open your eyes and rise, rose!
the day awaits you
and the coffee is getting cold

2.11.07


A borboleta no apartamento

Nunca teria imaginado ela
que viraria borboleta numa janela.
A lagarta, vagarosa, procurou a planta
amarela, formosa, sim, aquela
Para descansar por um momento
E esperar seu casulo, seu encantamento
Mas não num apartamento.

É que num belo dia, azul e ensolarado
Uma meiga senhora
Que por cujas netas tem imenso cuidado
Fez como de hábito:
Ao lado de uma árvore de flores amarelas
Parou e ficou, e depois de olhar pra elas
Esticou seu braço curtinho
E arrancou um galhinho
Para suas netas, com muito carinho.

Quando em casa chegou, na água o colocou
No jarro localizado na cozinha
Ao lado da janelinha
E a plantinha, sempre observada,
Por todos admirada,
Dias lá passou
E a família viajou.

Na manhã de um dia quente
Viram as netas, de repente
Uma borboleta verde
Pelo jeito, muito valente
Ao lado daquilo que pensavam
Ser uma folha estranha
Que provocou uma surpresa tamanha
Pois as duas deram um pulo:
Não é folha, é casulo!

As meninas, maravilhadas,
Ficaram um pouco preocupadas
“E tem lá cabimento borboleta em apartamento?!”
Mas acharam melhor deixá-la por sua própria conta
Para que voasse quando estivesse pronta.

A noite chegou, então
E com ela a questão
Borboleta dorme onde?
E ela vai sobreviver?
Sem voar, sem comer, sem ser?
O que veio fazer neste planeta, a linda borboleta?
Talvez aqui na cidade
Aproveitar sua efemeridade
Apesar da excentricidade
De dentro do apartamento
Proporcionar deslumbramento
E até um pouco de felicidade.



12.10.07

a meaningless movement, a moviescript ending